O Liuro dos remedios contra hos sete peccados mortays (1543), de Frei João Soares, revela, sem quaisquer dúvidas, um conhecimento atento e aprofundado da hermenêutica bíblica e da patrística cristã (muito provavelmente, neste caso, através de súmulas) por parte do autor usada a preceito na ilustração e caracterização dos sinais, males e remédios dos sete pecados capitais. Há, na obra, uma preocupação de sentido pedagógico revelada no quadro de um ambiente de reforma protestante e pré Concílio de Trento, valorizando o pecador como primeiro agente e ator responsável pela sua vida e condição cristãs, pela sua salvação e redenção, pecador esse que é o destinatário da sua obra uma circunstância pouco habitual se pensarmos que integra, pelo tema, o corpus narrativo dos manuais e tratados de confissão. Mesmo assim e de forma original, esta obra de Frei João Soares dava resposta, pelo discurso dos vícios/pecados enquanto instrumento usado diretamente junto do destinatário, ao desiderato da Igreja do seu tempo que assentava na difusão da sua doutrina junto dos crentes, o mesmo é dizer junto da sociedade, cumprindo o objetivo de controlo espiritual e social sobre os seus membros.